sexta-feira

Gastei uma hora pensando num verso que a pena não quer escrever. No entanto ele está cá dentro inquieto, vivo. Ele está cá dentro e não quer sair. Mas a poesia deste momento inunda minha vida inteira.
Drummond

Carlos Drummond de Andrade

Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.

Tempo de absoluta depuração.

Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

terça-feira

A Lua e eu

Acho que todos nós temos um astro de preferência, talvez seja algo que carreguemos desde os tempos primitivos, quando aqueles corpos luminosos no céu ainda constituíam um mistério. O meu astro preferido é a Lua, sempre me encantei e fui afetada por ela, tendo importantes momentos de minha vida a ela associados. Do mesmo modo que dizem sobre se emocionar sem saber bem o porquê com uma música, um filme, a Lua me fascina assim e sempre que a observo, mente e coração mudam de perspectiva, como se eu conseguisse, por meio dela, passar a uma outra linda e maravilhosa dimensão...